Notícias

PT privilegia palanques para Lula e deve ter em 2026 o menor número de candidatos a governador de sua história

Preocupado com avanço do bolsonarismo, partido privilegia alianças que ampliem apoios ao presidente e avalia chapas ao Senado com nomes da centro-direita

Por Agência O Globo - 27/07/2025
PT privilegia palanques para Lula e deve ter em 2026 o menor número de candidatos a governador de sua história
Presidente Lula (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Para garantir palanques fortes para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tentativa de reeleição e nomes competitivos na disputa pelo Senado, o PT deve ter em 2026 o menor número de candidatos a governador de sua história. A projeção é feita por dirigentes do partido, apesar de as costuras políticas ainda serem embrionárias.

Em 2002, ano em que Lula foi eleito para o Planalto pela primeira vez, a legenda chegou a ter 24 postulantes a executivos estaduais. O número oscilou ao longo das disputas, sempre influenciado pela estratégia traçada para a corrida presidencial. Na última eleição, foram 13 nomes petistas.

Governadores aliados de Bolsonaro:

A sigla apresentou seu menor número de candidatos em 2010, apenas dez. Na ocasião, embalado pela popularidade em alta de Lula, o PT montou uma aliança de dez partidos em torno da candidatura de Dilma Rousseff.

Como era estreante em eleições e enfrentava desconhecimento por parte da população, era importante que a candidata tivesse amplo apoio para conseguir o maior tempo de TV. Essa articulação influenciou nas composições nos estados.

Família Bolsonaro:

De Tarcísio a Nikolas:

Agora, a expectativa é que o número de candidatos petistas seja ainda menor. Hoje, os únicos considerados certos na disputa a governador são os três chefes de executivo estadual que disputarão a reeleição: Elmano de Freitas (CE), Jerônimo Rodrigues (BA) e Rafael Fonteles (PI). O partido pode não ter nenhum candidato a governador nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Acenos ao centro

Os petistas querem usar as candidaturas estaduais para buscar apoios de alas de partidos de centro, que, por causa de suas divisões internas, podem apresentar resistência a um apoio a Lula na eleição presidencial. São os casos do MDB e do PSD.

No partido de Lula, é certa, por exemplo, a aliança com o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), na disputa pelo governo de Alagoas. Também é provável o apoio à família Barbalho no Pará. O governador do estado, Helder Barbalho, pretende lançar a sua vice, Hana Ghassan (MDB).

Os petistas também consideram sacramentadas adesões às candidaturas do senador Omar Aziz ao governo do Amazonas e do prefeito do Rio, Eduardo Paes, ao governo estadual. Os dois são do PSD.

Há, porém, estados em que o cenário é visto com preocupação pelo comando nacional, em virtude inclusive da falta de opções para alianças. Dentro desse grupo, os locais que despertam maior atenção são Santa Catarina e Paraná.

Em 2022, o PT surpreendeu na eleição para o governo catarinense com a ida de Décio Lima, atual presidente do Sebrae, para o segundo turno. O estado é um dos que tem a presença mais forte do bolsonarismo no país.

Agora, integrantes da direção nacional avaliam se não seria melhor aproveitar o recall de Lima na disputa pelo Senado. O temor do partido e de Lula é que a renovação de dois terços da Casa — 54 das 81 cadeiras — leve a um domínio dos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O ex-mandatário não esconde a intenção de priorizar a eleição de senadores e já declarou ter a expectativa de aumentar a bancada do PL para 20 parlamentares. Ter maioria na Casa é visto como estratégico na disputa contra o Supremo Tribunal Federal, uma vez que cabe à Casa votar pedidos de impeachment contra ministros da Corte. Um domínio bolsonarista no Senado também complicaria o governo de Lula, caso ele seja reeleito.

— Essa decisão vai demandar uma estratégia, porque a candidatura a governador também é importante para fazer o contraponto. Ainda não conversei com o presidente, e ele quem vai decidir — diz Décio Lima.

Até o Rio Grande do Norte, comandado pela petista Fátima Bezerra, virou motivo de preocupação. A governadora não pode concorrer a um novo mandato e não há um sucessor natural. A gestão também enfrenta questionamentos por parte da população. O temor é que o estado se torne o primeiro do Nordeste a passar para as mãos do bolsonarismo. A candidatura do senador Rogério Marinho (PL) é considerada forte entre os petistas.

Mas o principal alvo de atenção da cúpula do PT nos próximos meses deve ser São Paulo, com 22% do eleitorado. Há uma avaliação que Lula precisa ter um palanque forte, mesmo que o candidato escolhido não tenha chance de vitória. Um fiasco eleitoral entre os paulistas pode enterrar a candidatura presidencial, entendem lideranças petistas.

Na semana passada, Lula começou a tratar da eleição em São Paulo em almoço com o vice Geraldo Alckmin, o presidente do PSB, João Campos, e o ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB). França quer ser candidato a governador no estado, enquanto a cúpula do PT gostaria de ter Alckmin na disputa.

Em Minas, havia dúvida sobre a disposição do senador Rodrigo Pacheco (PSD) de ser o candidato a governador de Lula. Na quinta-feira, porém, ele esteve em um evento com o presidente no estado e adotou tom de campanha.

Em estados com forte presença bolsonarista, o PT tem buscado ao máximo o pragmatismo. Em Mato Grosso, são citados como possíveis candidatos o senador Jayme Campos, atualmente no União Brasil, e o ex-prefeito de Rondonópolis Zé Carlos do Pátio. Ambos teriam que mudar de legenda. Certo mesmo no estado é o apoio à reeleição do senador licenciado e ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.

— O caminho vai na direção de termos um palanque forte e amplo, não necessariamente com uma candidatura do PT ao governo. Exatamente para a gente sustentar a candidatura do Lula no estado — afirma Lúdio Cabral, líder do PT na Assembleia Legislativa.

Nas conversas com Lula, a cúpula do PSB tem defendido que o presidente apoie candidatos de centro-direita ao Senado que não sejam bolsonaristas. Seria uma forma de atrair a parcela do eleitorado que não é petista e evitar um domínio da oposição na Casa Legislativa. Em Pernambuco, por exemplo, é citado como opção o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho (União). O candidato a governador no estado deve ser João Campos.

No Rio Grande do Sul, os próprios petistas reconhecem a possibilidade de aliança, mesmo que informal, com o governador Eduardo Leite (PSD), caso ele decida tentar uma vaga para o Senado.

Tags