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Não há saída individual para os países da América do Sul, diz Lula

Por Poder 360 09/07/2024
Não há saída individual para os países da América do Sul, diz Lula
Lula (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta 2ª feira (8.jul.2024) que os países da América do Sul precisam se integrar para se desenvolver e tornar a região competitiva. Ao chegar a Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, nesta noite, o chefe do Executivo afirmou que a tentativa de golpe contra o governo de Luis Arce (Movimento ao Socialismo, esquerda) é “imperdoável” e que solução para a instabilidade política passa pela democracia. 

Lula falou sobre a integração regional ao ter sido perguntado por jornalistas sobre o que tem achado da Bolívia 15 anos de sua última visita ao país. O presidente será recebido por Arce em uma visita oficial de Estado na 3ª feira (9.jul), às 11h, no horário de Brasília.

“Às vezes eu fico triste, imaginava que as coisas tivessem evoluído, com mais investimento, que o Brasil tivesse cuidado melhor dos seus parceiros porque acredito muito na questão da integração. Não há saída individual para nenhum país da América do Sul. Ou aprendemos a agir como bloco, e saímos da mesmice e nos transformamos em região desenvolvida e competitiva, ou a gente vai continuar pobres”, respondeu.

O presidente brasileiro afirmou que a situação econômica da Bolívia está “mais difícil” do que estava há 10 anos, mas disse acreditar em melhorias. “Acho que isso tudo pode mudar, o Brasil também piorou. Passamos 1 ano consertando o Brasil e agora o Brasil vai fazer as coisas aconteceram, da forma mais positiva possível”, disse.

Lula chegou à Bolívia depois de ter participado, pela manhã, da cúpula de chefes de Estado do Mercosul, realizada em Assunção, no Paraguai. Em seu discurso no encontro, o presidente defendeu a integração latino-americana “baseada no trabalho qualificado e na produção de ciência, tecnologia e inovação para geração de emprego e renda”.

Tentativa de golpe é imperdoável

Segundo Lula, é “inimaginável achar que no 1º quarto do século 21 que vai resolver o problema dando golpe, que militares podem ser a solução”.

“Para quê? A solução está no fortalecimento da democracia, esta na participação da sociedade civil, no voto do povo boliviano. Não existe milagre, o que existe é respeito à democracia, que pode permitir a alternância de poder”, disse.

Logo no início de seu discurso no Mercosul, o presidente citou a questão e a comparou com o 8 de Janeiro, quando extremistas depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília. Disse que é preciso “permanecer vigilante”.

“A reação unânime ao 26 de junho na Bolívia e ao 8 de Janeiro no Brasil demonstram que não há atalhos à democracia em nossa região. Mas é preciso permanecer vigilantes. Falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários. Enquanto nossa região seguir entre as mais desiguais do mundo, a estabilidade política permanecerá ameaçada. Democracia e desenvolvimento andam lado-a-lado”, afirmou.

Em 26 de junho, um grupo de militares liderado pelo general Juan José Zúñiga tomou a praça da capital em uma ação chamada por Arce de “golpe” contra o governo. Um veículo blindado chegou a derrubar o portão de entrada do palácio presidencial.

No dia, Zúñiga disse que os militares buscavam “restaurar a democracia” e pediu a liberação imediata de presos políticos. Depois de o presidente nomear Jose Wilson Sanchez Velásquez como novo comandante-geral do Exército, os soldados se retiraram dos arredores da sede do governo.

Zuñiga foi preso no mesmo dia pelas autoridades bolivianas. A detenção foi feita na entrada da sede do Estado-Maior, em La Paz. O general foi levado imediatamente para a Procuradoria-Geral. Enfrentará acusações de “terrorismo” e levante armado contra a segurança e soberania do Estado.

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales (Movimento ao Socialismo, esquerda), disse dias depois que Arce havia “enganado” o povo boliviano e o mundo.

Ambos eram aliados políticos, mas se afastaram e atualmente são desafetos. Uma das possibilidades da visita de Lula é que ele se reúna também com Evo. O encontro, porém, ainda não está confirmado. Há uma expectativa de que o presidente brasileiro atue para unir novamente os 2 principais líderes da esquerda no país.

Perguntado sobre como pode resolver o imbróglio entre os 2, Lula respondeu: “Como se resolve qualquer conflito entre seres humanos”. 

O presidente afirmou que irá se inteirar sobre a situação política na Bolívia na 3ª feira (9.jul). “Naquilo que a gente puder ajudar para construir a unidade e fortalecer a democracia, esse eu acho que é o papel do Brasil”, disse.

Evo x Arce

O atual presidente se elegeu em 2020 com o apoio de Evo Morales, de quem foi Ministro da Economia entre 2006 e 2017 e depois em 2019. Morales foi presidente da Bolívia durante 13 anos (2006-2019).

No entanto, os 2 se distanciaram ao longo do tempo. Morales começou a criticar a gestão de Arce já no início do governo e mantém ataques constantes mútuos com ministros.

Ao anunciar em setembro de 2023 a intenção de candidatura, o ex-presidente citou nominalmente os ministérios da Presidência e do Governo. Disse que o objetivo do atual governo é entregar a Bolívia aos EUA. Em outra ocasião, também acusou a equipe de Arce de corrupção.

Em dezembro de 2023, o TCP (Tribunal Constitucional Plurinacional) da Bolívia decidiu que presidentes e vice-presidentes do país só podem se candidatar à reeleição ou a um 2º mandato uma única vez.

A decisão afeta diretamente Morales, que se movimenta para voltar à Presidência em 2025. Ele classificou a decisão como uma “conspiração”.

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