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A República surgida de uma dor de cotovelo, agravada por fake news
O plano tinha sido traçado para ser executado no dia 20 de novembro, mas dois acontecimentos anteciparam o golpe que derrubou a Monarquia e instaurou a República. O primeiro acontecimento era verdadeiro e se referia à nomeação do senador gaúcho Silveira Martins, como espécie de primeiro-ministro, em substituição a Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto.
Já o segundo acontecimento era mentira, era fake news, e alardeava que havia o plano para prender o marechal Deodoro e Beijamin Constant. Apesar do desmentido imediato, Deodoro tinha ainda a questão crucial para ele, que era a indicação de Silveira Martins para chefiar o novo ministério. O militar alagoano ainda tentou demover o imperador Pedro II da ideia e escolher outro nome, mas quando lhe perguntaram o motivo de vetar o nome do senador, Deodoro se esquivou.
Deodoro e Silveira Martins tinha uma contenda desde quando o alagoano serviu no Rio Grande do Sul, e disputou o amor da bela gaúcha chamada Maria Adelaide de Almeida Neves, uma viúva mais conhecida como Baronesa de Triunfo, embora não fosse baronesa, mas apenas filha do general Andrade Neves, esse sim, barão.
Como Pedro II manteve a indicação de Silveira Martins como chefe do seu ministério, restou a Deodoro proclamar a República. É certo, contudo, que a Monarquia estava em frangalhos, seja na economia, com a crise financeira causada pelo endividamento para custear a Guerra do Paraguai; seja pela crise religiosa, quando os bispos de Olinda-PE e de Belém-PA se rebelaram a não submeterem a orem do papa Pio IX à apreciação prévia do imperador e, finalmente, a questão militar com a insatisfação dos oficiais do Exército, que lutaram na Guerra do Paraguai e não tiveram o reconhecimento que julgavam merecedores.
Além disso, tinha a questão dos negros que serviram como solados e, após a guerra, voltaram à condição de escravos. Claro, nada disso cai na prova do ENEM, muito menos é ensinado nas escolas, mas é a face oculta da verdadeira história da República brasileira.
O mais interessante é que Pedro II, ao ser deportado para o exílio na França, onde faleceu anos depois, viu-se obrigado a embarcar num navio chamado Alagoas. Dizem que ele ainda brincou, com certeza aludindo à condição de Deodoro ser alagoano, dizendo: “Já que estão me levando para o Alagoas, me deixem em Penedo”.