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Com nova previsão da safra de cana em AL, usinas apostam no etanol

Por Blog do Edvaldo Junior 31/12/2025
Com nova previsão da safra de cana em AL, usinas apostam no etanol
Carregamento de cana em Alagoas (Foto: Reprodução/Edvaldo Junior)

No começo da safra de cana-de-açúcar 2025/2026, em setembro, Alagoas apostava num pequeno crescimento, de até 1,8%. A ocorrência de chuvas acima da média a partir de março até outubro deste ano alimentou a expectativa de reação no campo.

Quatro meses depois, o Sindaçúcar-AL (Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Alagoas) divulgou, nesta terça-feira (30/12) uma nova previsão. A safra mantém o ritmo inicial e caminha para ampliar a produção ou, na pior hipótese, repetir os números do ciclo anterior, mesmo com início mais tardio da moagem.

O setor projeta no novo levantamento o processamento de cerca de 18 milhões de toneladas de cana, mantendo o Estado como maior produtor do Norte e Nordeste.

Dados do Boletim Quinzenal nº 07 do Sindaçúcar-AL mostram que, até a primeira quinzena de dezembro, as usinas alagoanas já haviam processado mais de 9,5 milhões de toneladas de cana. No mesmo período da safra passada, o volume acumulado superava 10,5 milhões de toneladas, o que representa uma redução de 9,6% na comparação direta.

Segundo o presidente do Sindaçúcar-AL, Pedro Robério Nogueira, a diferença não reflete perda estrutural, mas sim uma estratégia adotada pelas usinas. “O início da moagem foi postergado de forma deliberada para permitir um melhor amadurecimento da cana. Isso impacta o volume no curto prazo, mas melhora o rendimento industrial”, explicou.

Se confirmada a produção de 18 milhões de toneladas, crescimento na comparação com a safra anterior (17,4 milhões) será de 3,4% na produção de matéria-prima. O processamento industrial, no entanto, deve ter um mix diferente do ciclo anterior, em função da aposta das usinas na fabricação de etanol, que tem apresentado melhor remuneração para a indústria nas últimas semanas em Alagoas – e no Brasil.


Mudança no mix

Além da questão climática e operacional, a safra 25/26 em Alagoas passa por uma redefinição do mix de produção, com maior direcionamento da cana para o etanol. Inicialmente, a expectativa era produzir cerca de 1,5 milhão de toneladas de açúcar, projeção que foi revista para aproximadamente 1,1 milhão de toneladas.

“Vamos destinar mais cana para o etanol. Com isso, a produção pode se aproximar de 500 milhões de litros, um volume superior ao registrado na safra passada”, afirmou Pedro Robério. A produção de etanol deve registrar crescimento de mais de 23% na comparação com o volume produzido na safra 2024/2025 em Alagoas, que foi de 405.617 m3.

A decisão está diretamente ligada ao cenário de mercado. De acordo com Pedro Robério, o etanol apresenta hoje uma remuneração mais atrativa no mercado interno quando comparado ao açúcar no mercado internacional. Ainda assim, ele ressalta que os preços atuais seguem abaixo dos observados no ciclo anterior.

Pedro Robério também chamou atenção para o impacto negativo do tarifaço dos Estados Unidos, que reduziu as exportações de açúcar para o mercado norte-americano. “Essa perda de receita não pôde ser compensada por outros destinos”, destacou.

Produção acumulada até dezembro


Até a segunda quinzena de dezembro, o levantamento do Sindaçúcar-AL aponta:


• Etanol: 220,5 milhões de litros produzidos


◦ Safra passada no mesmo período: 237,3 milhões


◦ Variação: -7%


• Açúcar (cristal e VHP): 760,1 mil toneladas


◦ Safra passada no mesmo período: 981,0 mil toneladas


◦ Variação: -22,5%


A queda mais acentuada no açúcar reforça a mudança de estratégia do setor alagoano nesta safra, priorizando o biocombustível.


Evolução das últimas safras em Alagoas


• Safra 2023/2024: 19,3 milhões de toneladas


• Safra 2024/2025: 17,4 milhões de toneladas


• Safra 2025/2026 (estimativa): até 18 milhões de toneladas

Contexto regional

Nas regiões Norte e Nordeste, a moagem acumulada até 30 de novembro somou 32,5 milhões de toneladas, queda de 9,4% em relação ao mesmo período da safra passada. No Nordeste, a retração foi de 9,1%, refletindo uma safra mais curta e desafiadora.

Apesar disso, o setor demonstra resiliência, especialmente com o crescimento do etanol anidro, essencial para a mistura na gasolina e para o cumprimento das metas de descarbonização. No Nordeste, a produção de etanol anidro cresceu 5,1%, mesmo em um cenário geral de retração.