Notícias

Busca arqueológica pelos mais antigos Quilombos dos Palmares começa em janeiro de 2026

Pesquisadores da Ufal e de instituições parceiras usarão informações de cronistas holandeses, mapa inédito e técnicas avançadas para localizar núcleos de resistência palmarina

Por Severino Carvalho / Portal Alagoas Noticia Boa 23/11/2025
Busca arqueológica pelos mais antigos Quilombos dos Palmares começa em janeiro de 2026
Anúncio foi feito na Serra da Barriga, dia 20 (Foto: Cortesia)

esquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e de outras instituições parceiras darão início, a partir de janeiro de 2026, às atividades arqueológicas de campo para identificar os mais antigos Quilombos dos Palmares, entre municípios de Alagoas e de Pernambuco. O trabalho será financiado pela Fundação Cultural Palmares (FCP), por meio de Termo de Execução Descentralizado (TED).

O documento foi assinado pelo presidente da FCP, João Jorge Rodrigues, e pelo reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, na quinta-feira (20), em ato solene realizado dentro da programação do Dia da Consciência Negra, na Serra da Barriga, em União dos Palmares. Serão investidos R$ 300 mil nas pesquisas.

Em entrevista ao Alagoas Notícia Boa (ALNB), o professor Flávio Moraes, do curso de História da Ufal Campus Sertão, informou que a pesquisa tem por objetivo identificar os quilombos mencionados pelos cronistas holandeses, especialmente Blaer e Marggraf. Tais descrições foram feitas durante as excursões realizadas para destruir esses aglomerados populacionais de resistência e busca pela liberdade.

Um mapa inédito da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro (século 17), encontrado em arquivo digital de uma universidade dos Estados Unidos, também auxiliará os pesquisadores nessa tarefa. De acordo com o professor, as informações contidas no documento corroboram os dados colhidos nos textos dos cronistas.

“Sabemos que os cronistas holandeses mencionam três quilombos, a que chamam de Velho Palmares, Outro Palmares e Palmares Grande. O mapa indica pontos-chave que estávamos buscando. Trabalhamos com a sobreposição cartográfica para identificar esses locais nos mapas atuais, além de identificar pontos de referência nas informações relatadas pelos cronistas, e traçarmos o percurso feito”, releva o professor, graduado em História e mestre e doutor em Arqueologia.

Mapa inédito da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro (século 17), encontrado nos Estados Unidos, também auxiliará os pesquisadores (crédito: divulgação)Ainda segundo Flávio Moraes, dois desses quilombos estariam localizados nos municípios de Correntes e Lagoa do Ouro, no Agreste de Pernambuco. Já o terceiro, situado entre Chã Preta e União dos Palmares, em Alagoas.

Conforme informações do Diário de Pernambuco, o mapa, encontrado pelo cartógrafo histórico Levy Pereira na biblioteca da Universidade de Harvard, é uma versão manuscrita do Brasilia Qua Parte Paret Belgis (A parte do Brasil que pertence aos Neerlandeses), do matemático e naturalista George Marggraf, composta por nove mapas das Capitanias e Câmaras do Brasil Neerlandês.

Tratamento de dados

O professor revela que os trabalhos burocráticos já tiveram início, assim como o levantamento e o tratamento dos dados, a partir das informações cartográficas. Os pesquisadores elaboraram hipóteses a serem testadas. Já as atividades de campo terão início em janeiro do próximo ano.

“Utilizaremos métodos da própria arqueologia, de prospecção de superfície e abertura de sondagens, sempre que identificarmos potencialidade. Também utilizaremos o método da fotogrametria aérea, com a utilização de drone”, detalha o professor.

Segundo o professor Flávio Moraes, a pesquisa tem por objetivo identificar os quilombos mencionados pelos cronistas holandesesFotogrametria é a ciência que utiliza fotografias para extrair informações tridimensionais de um objeto ou área. Ao capturar imagens de diferentes ângulos e sobrepostas, softwares especializados processam essas fotos para criar modelos digitais 2D ou 3D precisos, permitindo a medição de distâncias, dimensões e a geração de mapas e modelos de relevo.

Além de Flávio Moraes, integram ainda a equipe de pesquisadores o arqueólogo Onésimo Santos; os historiadores Bruno Miranda, Danilo Marques e Zezito Araújo; o geógrafo e arqueólogo Daniel Kim, e o antropólogo Vagner Bijagó.

Moraes revela que a expectativa é grande para encontrar evidências materiais da ocupação no território que sabidamente pertenceu aos palmarinos.

“Historiograficamente, temos muitas informações, mas, arqueologicamente, ainda não foram identificados materiais que faziam parte desse cotidiano. Encontrar esses materiais e ampliar o conhecimento do modo de vida dos palmarinos nesse espaço de luta, resistência e busca pela liberdade vai ampliar o conhecimento acerca desse momento histórico que tanto nos serve de inspiração e de exemplo”, conclui o professor.

Tags