Valor do novo consignado privado é metade do modelo anterior e tomador tem renda mais baixa, diz BC
                O valor médio do empréstimo no é cerca de metade do modelo anterior, enquanto o tomador médio tem renda e instrução mais baixas, trabalham em empresas menores e têm menos tempo no emprego. As informações são de um estudo realizado pelo Banco Central sobre os primeiros meses de operação do "Crédito do Trabalhador", que foi divulgado no Relatório de Política Monetária nesta quinta-feira (25).
As conclusões apontam que o aumento de juros registrado na modalidade desde o lançamento do novo formato podem estar ligados ao perfil dos clientes que estão pegando os empréstimos. Além disso, o BC observou que, em um primeiro momento, houve um aumento do endividamento entre os tomadores do novo consignado privado.
O Crédito do Trabalhador foi lançado no fim de março com o objetivo de ampliar o acesso ao crédito para todos os empregados com carteira assinada. Antes, essa modalidade dependia de um convênio bilateral entre os empregadores e os bancos, o que acaba por limitar o acesso a trabalhadores de grandes empresas.
Segundo o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, as conclusões do estudo sinalizam que o perfil do tomador do novo crédito consignado possa explicar a elevação da taxa de juro média na modalidade após o lançamento do novo modelo. No geral, o juro médio passou de 40,9% ao ano em fevereiro, antes do lançamento da nova dinâmica, para 55,5% ao ano em julho.
— O tomador desse novo crédito é um trabalhador com menor instrução e renda, menos tempo de empresa e trabalhando em empresas de menor porte. As pessoas gostam de fazer comparação no número cheio, mas é importante olhar o perfil do tomador, sugerindo que talvez o perfil do tomador ajude a explicar a taxa de juros mais elevada — afirmou Guillen, em entrevista coletiva sobre o relatório nesta quinta-feira.
Na análise do órgão, foram considerados como resultado da politica os contratos realizados com o par empregador-instituição financeira que não existiam antes do novo modelo - ou seja, foram excluídas as concessões para trabalhadores cujas empresas já tinham convênio com bancos antes (sistema antigo).
Os dados mostram que 3,0 milhões de pessoas tomaram crédito consignado privado entre março e julho e estima-se que 2,3 milhões o fizeram por meio de contratos viabilizados pela nova legislação. Já as concessões atingiram R$ 21,9 bilhões, dos quais R$ 13,6 bilhões são referentes ao Crédito do Trabalhador.
Em relação à taxa de juros, as operações do novo consignado se mostraram mais caras do que os empréstimos consignados dos convênios, porém bem mais baratas do que o crédito pessoal não consignado.
A média do novo consignado, que atingiu 58,0% ao ano (3,9% ao mês) nas operações contratadas até o final de julho, representa cerca de 60% da taxa de 106% ao ano (6,2% ao mês) cobrada em média no crédito pessoal não consignado. No mesmo período, a taxa média do consignado baseado em convênios existentes antes de março atingiu 36,2% ao ano (2,6% ao mês).
Além disso, o valor médio das concessões do novo modelo é cerca de metade do que era ofertado no sistema de convênios, R$ 5,8 bilhões contra R$ 11,3 bilhões. Em relação à taxa de endividamento no mês anterior à tomada do crédito, considerando somente modalidades de crédito com recursos livres, o BC notou que a dos tomadores do novo consignado é inferior à das operações usando convênios.
De posse dessas informações, o BC conclui que os trabalhadores beneficiados pelo novo sistema têm menor acesso ao crédito - ou seja, o Crédito do Trabalhador está ampliando essa oferta.
"Em conjunto com o fato de se depararem com taxas de juros mais elevadas, este pode ser um indicativo de que os trabalhadores beneficiados pelo novo consignado têm menor acesso ao crédito."
Por outro lado, o endividamento dos tomadores do novo consignado privado aumentou após a contratação da modalidade. Passou de R$ 18,4 bilhões em fevereiro para R$ 33,1 bilhões em julho - a alta da taxa média de endividamento foi de 21,1% para 41%. Para o BC, isso é um sinal de papel limitado da substituição de dívidas existentes.
"Esse aumento no endividamento (R$14,7 bilhões) é inclusive superior ao montante concedido no novo consignado (R$13,6 bilhões), sugerindo que esses indivíduos tomaram crédito em outras modalidades além do consignado."
O BC pondera ainda que, por outro lado, é possível que os indivíduos que contrataram o crédito já estivessem buscando empréstimos de qualquer forma. Nesse caso, o acesso a uma modalidade mais barata tem efeito positivo no orçamento das famílias. Guillen também pregou cautela sobre avaliações definitivas.
— Agora parece ter tido aumento de endividamento, mas ainda é cedo para ter uma conclusão definitiva sobre o caso — avaliou o diretor do BC.