Banco Central detalha motivos para manutenção da Selic em 15%
                O Banco Central deve detalhar os motivos que sustentam a decisão de manter a taxa Selic em 15% ao ano na semana passada na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que será divulgada nesta terça-feira. O documento ainda pode trazer mais informações sobre a sinalização de que os juros básicos devem ficar parados por período "bastante prolongado".
O BC finalizou o ciclo de alta em junho, mantendo a Selic em 15% no Copom de julho e, agora, em setembro. Essa é a maior taxa desde julho de 2006.
No comunicado da semana passada, o BC pregou cautela e reforçou que deve manter a taxa atual por "período bastante prolongado". Segundo economistas, o Copom não mostrou abertura para uma discussão sobre corte de juros e as chances de uma redução ainda este ano parecem menos prováveis.
"O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. O Comitê seguirá vigilante, avaliando se a manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado", disse o BC no comunicado na última quarta-feira.
Chamou a atenção de economistas que o BC manteve o discurso duro mesmo com algumas evoluções favoráveis no cenário para a inflação no Brasil. No campo externo, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) iniciou um ciclo de baixa de juros, que deve favorecer o câmbio brasileiro. O dólar, aliás, já havia caído bastante do Copom de julho para setembro, de R$ 5,55 para R4 5,40 na média considerada nas projeções do BC.
Internamente, o BC manteve a avaliação de que a desaceleração da economia ocorre de forma moderada e dentro do esperado, mesmo com os resultados recentes mais fracos, e destacou que o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo. O comitê tampouco fez menção à redução das expectativas de inflação, que começou a se apresentar em horizontes mais longos.
Também surpreendeu o mercado a manutenção da projeção oficial do BC de inflação para o horizonte relevante em 3,4%, contra a meta de 3,0%. O horizonte relevante, período em que o BC mira para colocar a inflação na meta, atualmente é o primeiro trimestre de 2027. Havia expectativa de alguma redução.
"O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado", disse no comunicado.
Nesse contexto, a expectativa do mercado financeiro é que a ata traga mais detalhes sobre a visão do BC em relação ao cenário externo, à atividade econômica e a trajetória de inflação para poder calibrar as apostas para a trajetória da Selic. Atualmente, a maioria do mercado projeta que o início do corte de juros deve ser em janeiro de 2026, mas o tom duro do BC no comunicado criou dúvidas se esse processo pode demorar ainda mais.