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Mounjaro contra o Alzheimer? Estudo da UERJ investiga potencial da substância presente na caneta emagrecedora

Equipe de pesquisadores é liderada pelo professor Carlos Alberto Mandarim-de-Lacerda

Por Agência O Globo - 06/09/2025
Mounjaro contra o Alzheimer? Estudo da UERJ investiga potencial da substância presente na caneta emagrecedora
Mounjaro sendo aplicado (Foto: Reprodução)

Além de tratar a diabetes tipo 2 e a obesidade, as substâncias ativas presentes nas canetas injetáveis também podem ser aliadas no combate à neuroinflamação, presente em doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.

Nesse sentido, pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) investigam os possíveis benefícios da tirzepatida, molécula presente no Mounjaro. Estudos anteriores com modelos animais encontraram uma conexão entre o composto químico e uma melhora na memória.

— Acontece que eu não sou o primeiro a ter essa ideia de tratar a neuroinflamação e, como consequência, o Alzheimer. Já existem outros trabalhos sobre isso. o que estamos propondo é testar ao limite o quanto isso se prova verdade. Vamos fazer testes cognitivos e morfológicos do cérebro para ver se o benefício é consistente — explica Carlos Alberto Mandarim-de-Lacerda, pesquisador que lidera o estudo e professor titular do Departamento de Anatomia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

A equipe de Lacerda já conta com duas publicações na revista Diabetes, Obesity and Metabolism (DOM) e também uma na revista Life Sciences. A partir dos achados ligados a ação da tirzepatida em ratos na menopausa com diabetes tipo 2 e obesidade os pesquisadores pretendem dar um passo em direção a novas respostas sobre a ação da substância ativa no cérebro.

Como a tirzepatida pode combater a neuroinflamação?

De acordo com o pesquisador, alguns trabalhos apontam para uma provável relação entre a diabetes e o Alzheimer. Esses autores, inclusive, chamam a doença de “diabetes do tipo 3”

— Isso se dá porque as pessoas acometidas de Alzheimer frequentemente têm diabetes do tipo 2. São duas coisas muito interligadas. Por isso, foi natural que um medicamento com uma tecnologia nova usado para tratar a diabetes tipo 2 fosse estudado para buscar ligações com melhoras na neurodegeneração — aponta.

Dessa forma, modelos animais serão utilizados para o estudo. No primeiro subprojeto, ratos fêmeas com obesidade, diabetes e que estejam passando menopausa tratados com tirzepatida. Depois, o cérebro desses animais é analisado a partir das proteínas produzidas na região do hipotálamo, região do cérebro mais afetada pela neuroinflamação.

Já o segundo subprojeto tem ratos machos que recebem uma solução que irrita o cérebro e causa perda de memória. Em seguida, são tratados com a substância ativa presente no Mounjaro.

— Os medicamentos análogos de GLP-1 afetam o núcleo arqueado do hipotálamo e diminui o apetite. Mas veremos se isso também possui benefícios para a perda cognitiva — conclui.

A longo prazo, a pesquisa pode ser positiva em grande escala para a saúde pública, de acordo com a presidente da FAPERJ, Caroline Alves.

“É uma pesquisa de enorme relevância social e científica. Estamos falando de doenças que impactam milhões de brasileiros e sobre as quais ainda temos poucas alternativas terapêuticas. Ver que uma linha de investigação da UERJ pode abrir caminhos tanto para a prevenção quanto para o tratamento de condições como Alzheimer, diabetes e obesidade é motivo de orgulho para todos nós. A ciência fluminense mostra, mais uma vez, sua capacidade de inovar e propor soluções para os grandes desafios da saúde pública”, afirma.

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