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Lula diz que não vai ligar para Trump para negociar tarifaço, e governo avalia que movimento tem de vir dos EUA

Por Agência O Globo - 07/08/2025
Lula diz que não vai ligar para Trump para negociar tarifaço, e governo avalia que movimento tem de vir dos EUA
Lula (Foto: Agência Brasil)

No dia 1 do tarifaço de 50% a produtos brasileiros, o presidente Luiz Inácio da Silva disse que vai chamar os líderes da Índia, , e da China, , para discutir uma resposta conjunta ao tarifaço de . A decisão foi anunciada no mesmo dia que o governo americano decidiu ampliar o escopo de ameaças, ao elevar de 25% para 50% a taxa adotada para produtos indianos como

Com o aumento, Brasil e Índia se equiparam com as mais altas sobretaxas impostas a parceiros comerciais. O decreto foi anunciado poucas horas após negociações entre EUA e Rússia a respeito da guerra na Ucrânia não resultarem em avanços. Para Trump, a compra de combustível “alimenta a máquina de guerra” de Vladmir Putin, como descreveu em rede social.

Lula . Eles têm boa relação diplomática e são fundadores do Brics, ao lado de China e Rússia, grupo alvo da retórica geopolítica de Trump. Em julho, após a cúpula do Brics, Lula recebeu o premier indiano em Brasília para firmar acordos bilaterais.

— Vou tentar fazer uma discussão com eles (Índia e China) sobre como é que cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão — disse Lula em entrevista à agência Reuters. — Eu sou presidente do Brics até dezembro e vou conversar com todas as pessoas, é da minha responsabilidade.

Ontem, o presidente dos EUA acusou o governo Modi de se recusar a facilitar o acesso a produtos americanos e criticou sua participação no Brics. A nova tarifa adicional de 25% para a Índia entrará em vigor em 21 dias, segundo o decreto.

É a segunda vez que Trump recorre a argumentos alheios a questões comerciais para sobretaxar um país. A primeira foi com o Brasil, quando anunciou que além da tarifa recíproca de 10%, o país teria taxa adicional de 40% e listou o tratamento ao ex-presidente Jair Bolsonaro, julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, e o tratamento dado a big techs.

‘Não vou me humilhar’

O decreto contra a Índia, porém, abre espaço para que Trump puna outros países que mantenham relações comerciais na área de energia com a Rússia, caso do Brasil. Atualmente, 30% do consumo nacional de diesel no país é resultado de importações. E as compras de diesel russo representam 60% do total de aquisições do combustível do exterior.

Na avaliação de Lula, Trump quer acabar com o multilateralismo e criar um modelo no qual ele negocia sozinho com outros países. “Qual é o poder de negociação que tem um país pequeno com os EUA na América do Norte? Nenhum”, ponderou o presidente.

Apesar dos esforços para estabelecer um canal de negociação com a Casa Branca, Lula disse que não enxerga espaço para negociar com Trump.

— Pode ter certeza de uma coisa: o dia que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. — disse. — Um presidente da República não pode ficar se humilhando para outro.

Ontem, o governo chinês saiu em defesa do Brasil. Em conversa por telefone com o assessor para Assuntos Internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, o chanceler da China, Wang Yi, disse que seu país se opõe à interferência externa irracional”, segundo nota do Ministério das Relações Exteriores da China. O chanceler afirmou que a China apoia “firmemente” o Brasil na defesa de sua soberania e dignidade nacionais.

‘União faz a força’

“Usar tarifas como arma para reprimir outros países viola a Carta da ONU e mina as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio). É impopular e insustentável. Como os maiores países em desenvolvimento dos Hemisférios Oriental e Ocidental, China e Brasil sempre se apoiaram mutuamente e cooperaram estreitamente, salvaguardando firmemente seus respectivos interesses legítimos”, diz nota.

Em rede social, a Embaixada da China no Brasil publicou a mensagem “A união faz a força”, em tradução livre.

Diante do cenário, o governo brasileiro decidiu recorrer à OMC, em um processo que pode levar anos. Em outra frente, o Brasil insistirá nas negociações sobre o tarifaço por meio do vice-presidente, , e do ministro de Relações Exteriores, . O ministro da Fazenda, , disse que se encontrará com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, na próxima semana. Lula descartou a retaliação:

— Quando um não quer, dois não brigam. E eu não quero brigar com os EUA.

Sem avanço em negociações, o Brasil acena com redução no prazo de registro de patentes, um dos alvos da investigação do Escritório de Representantes de Comércio dos EUA sobre práticas comerciais brasileiras. E Lula sinalizou que o Brasil pode negociar parcerias para explorar minerais críticos e terras-raras com outros países. Estes produtos estão na lista de interesses de Trump no Brasil.

Lula ressaltou que o plano de socorro a exportadores dará prioridade à manutenção de empregos e ajudará empresas a buscar novos mercados. As medidas não foram formalmente anunciadas e esbarram em divergências políticas. Lula ressaltou que manterá responsabilidade fiscal.

Apesar da entrevista ontem, o Palácio do Planalto reavalia a ideia de pronunciamento em cadeia de rádio e TV de Lula para rebater as tarifas e as sanções ao ministro do STF . Segundo auxiliares, a ideia é conciliar o comunicado com o anúncio das medidas de mitigação à sobretaxa.

O governo busca não estimular a tensão após a prisão domiciliar de Bolsonaro ter sido decretada por Moraes. (Com agências internacionais)

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