Direita poupa Eduardo Bolsonaro, mas avalia prejuízo eleitoral de tarifaço e teme custo político
Apesar de evitarem críticas, aliados do ex-presidente demonstram preocupação com efeitos de medidas anunciadas por Trump

A atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA para pressionar pela aplicação de sanções contra autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes, tem provocado desconforto entre lideranças da direita e gerado temores de prejuízo eleitoral. Embora evitem críticas públicas, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro demonstram preocupação com os efeitos econômicos e diplomáticos do tarifaço anunciado por Donald Trump.
As tarifas, justificadas como resposta a uma suposta “perseguição” da Justiça a Bolsonaro, expuseram divergências no campo conservador. Embora parte da base bolsonarista endosse o discurso de confronto com o Judiciário e de alinhamento automático aos EUA, outros nomes se preocupam com o impacto direto das medidas sobre a economia brasileira.
O ex-ministro da Justiça e senador Sergio Moro (União Brasil-PR) disse ser contra as tarifas, mas encarou a exclusão de setores como um alívio. Ele evitou vincular diretamente as medidas à atuação de Eduardo Bolsonaro e responsabilizou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT):
— Sou contra as tarifas, mas foi um alívio a lista de exceções. É importante buscar a ampliação das exceções. No entanto, o governo Lula não parece ter capacidade diplomática para dialogar em alto nível com o governo Trump.
Já o ex-ministro do Meio Ambiente e deputado federal Ricardo Salles (Novo-SP) caracterizou o aumento de tarifas como “péssimo” para ambos os países:
— Aumenta o custo de vida e diminui a variedade de produtos. O livre comércio é positivo para os dois lados.
O senador Cleitinho (Republicanos-MG) foi mais direto:
— Sou contra esse tarifaço. Não conte comigo para sanções coletivas. Isso prejudica a população e pode afetar empregos.
A ex-ministra Damares Alves, por sua vez, tentou equilibrar os dois lados. Defendeu as sanções a Moraes, que classificou como “esperadas”, mas atribuiu as tarifas à política externa do governo Lula:
— Tem a ver com o alinhamento com Irã, Rússia, Venezuela, a história da tal moeda do Brics. Vi a lista de alguns setores poupados, mas minha preocupação com a economia é imensa.
Gesto extremo
No campo, há o temor de reflexos negativos em 2026 para o candidato à Presidência que receber o apoio de Bolsonaro. O ponto de maior tensão está nas articulações para que autoridades brasileiras sejam incluídas na lista de sanções da Lei Magnitsky. A inclusão de Moraes foi vista por líderes partidários como um gesto extremo, que pode isolar o Brasil internacionalmente e agravar a crise.
Apesar das críticas veladas à estratégia, Eduardo Bolsonaro tem sido blindado por aliados, mesmo entre os que consideram sua atuação equivocada. Reservadamente, parlamentares admitem que o deputado ajudou a fomentar o clima que resultou nas sanções, mas avaliam que criticá-lo publicamente abriria nova frente de conflito no campo.
Ex-presidente do PSL, partido que elegeu Bolsonaro em 2018, Luciano Bivar (União-PE) reprovou as ações contra Moraes. Os dois romperam em 2019:
— É um absurdo como tem brasileiros que se posicionam contra nossa soberania. O nosso Alexandre Moraes é um esteio da democracia — afirmou.
Outros caciques da direita optaram por não se manifestar. Presidente do Republicanos, Marcos Pereira disse que “ficaria em silêncio” sobre o tema. Já o senador Ciro Nogueira (PP-PI) alegou estar de férias.