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Fabrício Corsaletti e Lilian Sais abordam os 'caprichos e relaxos' da poesia em segunda mesa da Flip
Autores se abriram sobre o processo de produção de cada um e como lidam com a escrita

O segundo dia da programação principal da 23ª edição da Flip, em Paraty, nesta quinta-feira, começou com participação de Fabrício Corsaletti e Lilian Sais. Nomeada "Caprichos e Relaxos", em referência à obra de Paulo Leminski, o homenageado da vez, a mesa abordou temas ligados à própria criação poética: as fontes de inspiração, os limites (ou não) da linguagem e da escrita.
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O primeiro a responder os questionamentos do mediador Tarso de Melo, coordenador do Círculo de Poemas, foi Fabrício, vencedor do Prêmio Jabuti de Poesia de 2023.
— Literatura e vida... eu ouço isso desde que cheguei a São Paulo. Para mim, a preocupação maior é jogar palavras numa página e conseguir proporcionar uma experiência com elas. Qualquer coisa que me sirva para chegar ao papel, está valendo. A ideia é não deixar as coisas morrerem demais, é ir criando vida. Eu uso o que for necessário para escrever, seja uma memória, um som, uma cena de um filme ou até roubando poema dos outros — brincou.
Lilian, finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, contou sobre o processo de escrita de "O funeral da baleia" (Editora Patuá), publicado em 2021. A obra começou a ser escrita 13 anos antes, com a morte da mãe.
— Eu fiquei com aquela cena presa na memória. Minha mãe falecendo no hospital, e eu olhando pela janela, vendo a vida continuar. Eu não conseguia nomear o que estava sentindo, e surgiu uma necessidade muito grande em entender isso. Foi então que comecei a escrever e, naquele momento, eu nem sabia que iria virar um livro.
Fabrício e Lilian foram aplaudidos com frequência durante a mesa, que contou também com boas risadas. A exemplo, a explicação de Lilian sobre a capa do livro "Cabeça boa" (DBA), lançado este ano. A ideia, na verdade, emergiu de um ato falho da visão:
— Eu estava lendo o livro "Dança para cavalos", da Ana Estaregui, e fui surpreendida com a frase "a água sabe ser água". Mas, naquele momento, eu estava com um problema na visão (sou míope), e li "a água sabe ser égua". Ai, eu pensei "uau, o que a Ana está querendo dizer com isso?". E foi assim que surgiu esse livro — revelou.
Já Fabrício contou da vez que um encontro com o escritor Reinaldo Moraes, inicialmente entendiante, resultou num poema:
— O Reinaldo é um dos autores brasileiros mais engraçados que eu conheço. A gente se encontrou num bar e, antes da cerveja fazer efeito, estávamos meio entediados. Ai, eu soltei um fadado, ridículo e antiquado "ai ai ai", e o Reinaldo virou para mim e disse "para dizer o mínimo". A gente começou a rir e brincamos de fazer um poema com isso. Tem limites da linguagem em que a poesia é humor e vice-versa.