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Ranking lista as 100 maiores músicas brasileiras; monte seu top 10

Convidados pelo GLOBO, especialistas indicam as canções mais importantes dos últimos 100 anos

Por Agência O Globo - 31/07/2025
Ranking lista as 100 maiores músicas brasileiras; monte seu top 10
Música. (Foto: Divulgação)

A tarefa não era, convenhamos, das mais fáceis: escolher compostas desde 1925, ano de fundação do GLOBO. A lista podia ter de 10 a 20 músicas. Ao mandar a sua, pediu para avisar: “Depois dessa, vou fazer um samba chamado ‘Acho que vou me arrepender’.”

O das 100 canções, uma breve história de cada uma, a chance de ouvir um trechinho, a relação inteira dos votantes e, de quebra, um convite para que a pessoa monte a sua própria seleção de 10 maiores canções, entre as 100 escolhidas. Para depois compartilhar com amigos nas redes sociais e inspirar a criação de uma playlist. Confira no link abaixo:

Intimado com o argumento de que até Paulinho já tinha mandado a sua lista, Marcelo D2 deixou a indecisão de lado e também mandou uma. Mas fez questão de salientar: “Esta é uma lista minha, muito pessoal, feita em poucos dias... devia ter um ano para pensar!” De quebra, D2 se mostrou animado com a possibilidade de um novo samba do mestre portelense, que há décadas não lança álbum de inéditas: “Vou ligar pro Paulinho pra fazer um feat nesse som!”

O resultado da árdua votação está aí: escolhidas por um time de 100 profissionais envolvidos com o cotidiano da MPB, entre compositores, intérpretes, instrumentistas, produtores, DJs, pesquisadores, curadores, jornalistas, comunicadores e documentaristas. Homens e mulheres das mais diferentes idades — do jornalista João Máximo (90 anos) à revelação sergipana do arrocha Nadson O Ferinha e ao trapper Veigh (23 anos).

E artistas de todos os estilos da MPB, incluindo sertanejo (, Lauana Prado, Daniel, Luciano Camargo), forró (, Nattan), trap (BK’, , Veigh), gospel (Kleber Lucas) e até heavy metal (Andreas Kisser, guitarrista do ).

‘Não chore não, viu?’

No topo da lista, ficou “Asa Branca” (1947), composta pelo Rei do Baião, o pernambucano Luiz Gonzaga, com seu letrista de fé, Humberto Teixeira. Um clássico que, segundo um dos que votaram nela, Fred Zero Quatro (líder do grupo Mundo Livre S/A, um dos criadores do manguebeat recifense nos anos 1990), é um hino que “toca fundo na alma do nordestino”. Mas não apenas por isso.

— Uma prova da relevância dessa música na história da MPB é que, apesar de ter sido composta na década de 1940, ela talvez seja uma das canções brasileiras com maior número de regravações. Inclusive, com muita diversidade de estilos, e até em versões instrumentais — considera ele. — Tem “Asa Branca” de Toquinho, , , Dominguinhos, Zé Ramalho, Elba Ramalho e , até chegar a Nova York, com aquele projeto Forró in the Dark, do qual participou o David Byrne, fazendo uma versão maravilhosa em inglês.

No segundo lugar, uma escolha popular que a lógica pura e simples da votação poderia ter derrubado (mas aí entrou o coração): “Carinhoso”, tema que o carioca Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, compôs entre 1916 e 1917 (portanto antes da fundação do GLOBO), mas que só se popularizaria depois de 1936. Foi quando ela ganhou a célebre letra de João de Barro — pseudônimo de Carlos Alberto Ferreira Braga, o craque das marchinhas mais conhecido como Braguinha.

A partir daí, a lista é aquele desfile de canções dos monumentos da MPB: mais Gonzaga, (com ou sem Vinicius de Moraes), , Caetano Veloso, Gilberto Gil, o próprio Paulinho da Viola, Cartola, , , , Dorival Caymmi... com espaço generoso para aquelas duplas imbatíveis que são Roberto & e João Bosco & Aldir Blanc.

E dá-lhe também os anos 1970, gloriosos para a MPB, de Gonzaguinha, Belchior, Raul Seixas, Luiz Melodia, Guilherme Arantes, Zé Ramalho e Tim Maia. Ou então o Nordeste, que não tem só Luiz Gonzaga, mas Jackson do Pandeiro, Gordurinha, Almira, Sivuca e Glorinha Gadelha. Tem tradição do samba, que parte dos anos 1930, com Noel Rosa e Vadico, Ary Barroso e Ismael Silva, passa por Cartola e chega a Nelson Cavaquinho, Zé Kéti e Candeia. E, é claro, as grandes compositoras, como , Dolores Duran, Leci Brandão, Dona Ivone Lara e .

O rock dos anos 1980 marca presença na lista com seus grandes compositores: , , Herbert Vianna, Renato Russo e Nando Reis. O sertanejo, com “Evidências” (de José Augusto e Paulo Sérgio Valle, sucesso de Chitãozinho & Xororó — e de todos os cantores de karaokês) e “É o amor” (de Zezé Di Camargo). O rap, com o brutal “Diário de um detento” (de Mano Brown e Jocenir Prado, gravada pelos Racionais MCs); e o funk, com o esperançoso “Rap da felicidade” (de Kátia e Julinho Rasta, imortalizado por Cidinho e Doca).

E, para quem achava que a qualidade da música brasileira tinha ficado limitada a um certo período, a votação mostra que os clássicos continuaram a surgir novo milênio adentro: entre as 100 canções escolhidas, tem uma de 2016 (o “Lucro (descomprimindo)”, composta por Russo Pasapusso e Mintcho Garrammone e gravada pelo ) e outra de 2015: “Mulher do fim do mundo”, feita por Alice Coutinho e Romulo Fróes especialmente para — e sobre — Elza Soares, que a cantou de uma maneira que não houve quem não se arrepiasse com ela.

Muito do que a lista destacou também guarda uma relação com a história do GLOBO. Por exemplo: “Travessia”, que lançou a parceria de Milton Nascimento e Fernando Brant, se consagrou no II Festival Internacional da Canção, realizado pela TV Globo, em 1967. “Luiza” nasceu de uma encomenda a Tom Jobim para a abertura da novela “Brilhante” (1981). E “Brasil” (1988, de Cazuza, Nilo Romero e George Israel) conheceu o sucesso (além de marcar uma época) na abertura de “Vale tudo” (a original e o remake, de 2025).

Novelas e séries da TV Globo foram fundamentais para a popularização de canções da lista, como “Meu mundo e nada mais” (1976, de Guilherme Arantes, em “Anjo mau”), “Tempos modernos” (1982, de Lulu Santos, em “Sol de verão”), “Oceano” (1989, de Djavan, em “Top model”) e “Resposta ao tempo” (1998, de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, na voz de Nana Caymmi, em “Hilda Furacão”). E o que dizer do renascimento de “Alegria, alegria” (1967), de Caetano Veloso, em “Anos rebeldes” (1992)? De “Gita” (1974, de Raul Seixas e Paulo Coelho) sem o clássico videoclipe no “Fantástico”? De “Emoções” e “Detalhes” sem os especiais de Natal de ?

O GLOBO e a MPB caminharam juntos nos últimos 100 anos — e seguirão juntos nos próximos 100.

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