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Colo da madrinha Gal Costa e racismo: como foram os primeiros anos de vida de Preta Gil, que viveu entre o Rio e a Bahia

Cantora morreu nesta domingo aos 50 anos

Por Agência O Globo - 20/07/2025
Colo da madrinha Gal Costa e racismo: como foram os primeiros anos de vida de Preta Gil, que viveu entre o Rio e a Bahia
(Foto: )

Os primeiros anos de vida de foram marcados por memórias que iam do Rio à Bahia, estados onde viveu a cantora, que morreu neste domingo. As lembranças desse período, na segunda metade da década de 1970 e nos anos 1980, foram registradas em sua autobiografia, “Preta Gil: os primeiros 50” (Globo Livros), lançada em 2024. Nascida na capital fluminense, a artista fez relatos marcantes como a época em que viveu em Salvador, os primeiros dias na escola e até uma paixonite pelas músicas de Luís Caldas, astro do axé baiano.

“Antes de me mudar para o Rio, morei em Salvador. A gente era hippie, morávamos praticamente numa comunidade por lá. Nem móveis a gente tinha. Era só almofadão, pufe e cama de tatame”, relembra Preta na autobiografia. A cantora, entretanto, afirmou que a comunidade hippie deu lugar a uma casa com maior conforte, em plena Zona Sul da capital fluminense: “De repente, a casa da gente no Rio, em Ipanema, era uma cobertura de 600 m2 . O primeiro sofá que compramos foi no Rio. Eu me lembro de uma loja chamada Forma, que era moda no Rio, e minha mãe tem esses móveis até hoje”.

Na obra, a cantora ainda lembrou que voltava para Salvador durante as férias escolares. Foi quando, em um verão na Bahia, aos 11 anos, ficou apaixonada pela música “Fricote”, de um cantor “até então desconhecido do grande público chamado Luiz Caldas”. Ela até insistiu para que o pai, (já separado de Sandra Gadelha, mãe da artista), convidasse o astro do axé para um jantar em sua casa — detalhe: ele foi. Preta vestiu um de seus melhores vestidos para a ocasião.

A artista sempre teve esse lado um pouco mais vaidoso. Mas depois, já adulta, a cantora entendeu que sua compulsão por comprar bolsas e sapatos era um mecanismo de lidar com a rejeição que conheceu ainda na infância e arrastou até os 20 e tantos anos.

— As mães das minhas amigas falavam: “Aquela ali é a Preta, negra, filha do Gilberto Gil, que foi preso com maconha, hippie, doido”. Esses traumas se acumulam e, quando você ganha um certo poder aquisitivo, quer se mimar. E, bem ou mal, a sociedade começa a te enxergar a partir de bens materiais. Só fui me curar quando comecei a entender que o meu valor não estava nas coisas que tinha, mas no que sou — disse Preta ao GLOBO na ocasião de seus 50 anos.

Um dos casos que ela lembra na autobiografia é quando foi vítima de racismo da parte de uma mulher que transportava as crianças no trajeto escolar, já quando morava no Rio. “Não levei aquilo na maldade. Eu não entendi o que era.” Mas quando chegou em casa e rememorou as palavras ouvidas em uma conversa com sua mãe, Sandra…

“No dia seguinte, ela foi nos buscar. Lembro como se fosse hoje. Era uma ladeira fora do prédio. E lá estava minha mãe, parada (…) e perguntou: ‘Quem é a mãe da menina?’”, começou. “Minha mãe foi para cima com tudo, pegou a mulher pelo pescoço e a sacudia. E batia com a bengala no carro da mulher (…) Foi a maior baixaria na porta da escola. Eu, àquela altura, já estava dentro do carro chorando.”

O colo da madrinha Gal Costa era para onde ela corria quando pequena. Era para a cantora que Preta pedia a roupa ou o tênis da moda para acompanhar as amiguinhas do colégio de classe alta que frequentava no Rio. “Minha madrinha sempre foi uma grande paixão. E, mais do que do meu pai, eu queria era estar atrás dela”, conta ela no livro.

— Na infância e adolescência, fui muito próxima dela. Na vida adulta, a gente se encontrava muito esporadicamente. Mas, a partir de 2017, quando gravamos a música “Vá se benzer”, a gente virou amiga mesmo, de trocar ideia, de ligar para saber como estavam as coisas — afirmou.