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Uso do Jaé e frota reduzida: mudanças nos ônibus cariocas se acumulam na rotina dos passageiros, insatisfeitos com qualidade do serviço
Mudanças de rota e problemas com o ar-condicionado são os campeões em gerar multas para empresas

A Prefeitura do Rio publicou, na última segunda-feira, uma resolução que acarretará redução de viagens de ônibus na cidade, num corte, em média, de 20%. Empresas estão indo às redes sociais para informar da mudança. No caminho, é o passageiro quem vai ficar no ponto, talvez com ainda mais tempo de espera, na rotina do dia a dia.
Passageira relata terror após coletivo ser sequestrado em Madureira:
Reflexo da violência:
Essa será mais uma mudança no transporte público da cidade do Rio neste mês. Julho já está marcado como o início da obrigatoriedade do cartão Jaé para pessoas que dispõem do benefício de gratuidade (como idosos, estudantes de escola pública e pessoas com deficiência), o único aceito nos modais sob administração do município, o que inclui a maioria dos ônibus, desde o dia 5. E este é o último mês em que o Riocard vai valer para esses transportes para os passageiros em geral, que tem até 2 de agosto para aderir ao novo sistema de bilhetagem eletrônica.
Essas são algumas das adversidades que o passageiro tem para enfrentar, em viagens em que já são impactados. No Índice de Qualidade do Transporte (IQT) referente ao primeiro trimestre deste ano, que compreende de janeiro a março, nenhum dos 478 serviços que operavam na cidade neste período atingiram nota máxima (1). A linha 448 obteve o índice mais alto, com 0,95, enquanto a SP553 a mais baixa, com 0,31.
Para o relatório, que foi divulgado em maio deste ano, foram calculados os sete indicadores, entre eles, atendimento, regularidade, ar condicionado e satisfação do usuário.
Desde o IQT do primeiro trimestre, os dados da frota no município já mudaram, incluindo redução no número de licenciados, que chegou a 3.970 em julho, uma redução de 2,81% quando comparado ao mês de março, que dispunha de 115 coletivos a mais, totalizando 4085. A idade média dessa frota é de 6,4 anos, e, atualmente, 94,63% dispõem de ar condicionado, o que significa que 213 circulam sem.
Esses dados constam no painel da Secretaria Municipal de Transporte (SMTR) do Rio. Na mesma plataforma é possível consultar o relatório de multas aplicadas. Até ontem, terça-feira (15), foram emitidas 7.862 desde janeiro. O mês de abril é, até agora, o com maior volume de multas, com 1.815, o que representa pouco mais de 23%.
Neste mês, até as 8h do dia 15, foram registradas 192 multas, dos quais 58 referente a alterar ou não concluir o itinerário autorizado do veículo. Essa é uma das principais infrações também nos meses anteriores.
Ainda no sufoco
Em seguida vem a infração por inoperância ou mau funcionamento do sistema de ar condicionado nos veículos. Em dezembro do ano passado, a prefeitura começou a instalar sensores para medir a temperatura dentro dos ônibus, sob risco de perder o subsídio em caso de descumprimento. Só neste ano, já foram 1.223 multas aplicadas, praticamente o dobro ao se comparar com o mesmo período do ano passado, que somou 619. Devido a essa situação, a prefeitura diz ter descontado R$ 3,3 milhões de subsídios.
A promessa dos coletivos com ar-condicionado vem desde 2014, quando o prefeito Eduardo Paes prometeu ter toda a frota climatizada até dezembro de 2016. O valor da passagem aumentou, à época, sob a justificativa de financiar a modernização dos veículos. Em janeiro de 2023, a prefeitura publicou no Diário Oficial um decreto prevendo que quando o ônibus fosse encontrado com o ar-condicionado desligado, o município não pagaria à empresa responsável o subsídio relativo à circulação daquele dia.
Em nota, a prefeitura informou que, no dia 2 deste mês, a Secretaria Municipal de Transportes publicou no Diário Oficial uma resolução que prevê penalidades para ônibus municipais que apresentarem falhas recorrentes na transmissão ou inconsistência dos dados sobre o funcionamento do ar-condicionado. De acordo com a resolução, a partir do dia 16, as novas regras vão valer para todos os ônibus fabricados até 2019 (ou seja, os dados dos sensores nesses veículos começarão a ser utilizados para fins de fiscalização a partir de amanhã). Desde o fim do ano passado, a Prefeitura do Rio instalou cerca de 2.200 sensores de climatização nesses veículos.
Outro motivo de reclamações é quanto a inoperância ou mau funcionamento de dispositivo de acessibilidade. Em 2025, até agora, já soma 573 multas, dado que triplicou em relação ao mesmo período no ano passado, que acumulou 184.
Os principais motivos de multa neste ano, até agora, são:
alterar ou não concluir o itinerário autorizado do veículo (1.887)
inoperância ou mau funcionamento do sistema de ar condicionado nos veículos (1.223)
não efetuar vistoria ordinária ou extraordinária (894)
inoperância ou mau funcionamento de dispositivo de acessibilidade (573)
mau estado de bancos, por estofamento rasgado, molejo ou estofo sem efeito, por parte quebrada ou ausente (452)
falta de limpeza interna e/ou externa (412)
inoperância ou mau funcionamento de caixa de vista eletrônica ou similar (352)
piso furado, cortado, rachado ou solto (298)
falta, inoperância ou mau funcionamento dos dispositivos de sinal ótico ou sonoro, acionados, respectivamente, por botão interruptor ou por cordão (266)
revestimento interno, das laterais e/ou do teto, danificado ou ausente (147)
As condições de conservação dos ônibus também são motivo de punição e de reclamações. Mau estado de bancos, que pode estar, por exemplo, com estofamento rasgado, já soma 452 multas; falta de limpeza, 412; falta ou mau estado de balaústre, corrimão ou coluna, com 90; inoperância ou mau funcionamento de porta de serviço, com 36.
Sinal verde para o Jaé
Falta pouco mais de duas semanas para o Jaé passar a valer como única bilhetagem eletrônica nos modais do município, numa segunda fase de migração. Os passageiros que pertencem a um dos grupos com direito à gratuidade já devem substituir o Riocard pelo Jaé desde o último dia 5.
A mudança de sistemas ocorre como forma de "quebrar a caixa preta" dos transportes, como já foi afirmado várias vezes por Paes, uma vez que a empresa Riocard TI é administrada pelos próprios empresários que operam as linhas de ônibus da cidade. A transição teve início há dois anos, em julho de 2023, sempre esbarrando na dificuldade de obter os dados da empresa, segundo a prefeitura.
O plano era que o Jaé fosse usado exclusivamente em todos os transportes municipais a partir de fevereiro de 2024, o que não aconteceu. A prefeitura estabeleceu três outras datas: julho de 2024, fevereiro de 2025 e 1º de julho de 2025. O motivo dos adiamentos sempre foram a falta de integração com os modais sob a responsabilidade do governo estadual.
A migração, apesar de ser feita em duas etapas, ocorre com postos lotados, problemas no recebimento dos cartões e muitas dúvidas de passageiros. Para mitigar, a prefeitura tem inaugurado novos postos de atendimento, ampliando a capacidade e estendendo o horário de funcionamento. Ainda sem conseguir integrar os modais municipais com os estaduais (caso do metrô, do trem e das barcas), os passageiros é que precisam se adaptar, muito seguindo, a partir de agora, com os dois cartões.
Em agosto, quando o sistema for estendido a todos os usuários, as integrações do Bilhete Único Carioca só estarão disponíveis para quem possuir o Jaé. As integrações a R$ 4,70 em períodos de três horas seguem valendo — até três se uma delas incluir o BRT e duas sem corredor de ônibus rápidos. Para usuários do Bilhete Único Intermunicipal (BUI) nada muda. Os validadores do Riocard seguirão instalados nos ônibus da capital apenas para atender a esse público, estimado em pouco mais de 310 mil usuários, segundo dados do dia 2 de junho disponibilizados no site do serviço.