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Jaé: centenas de idosos se aglomeram em busca do cartão em Botafogo: ‘Falta de respeito e de humanidade’
No primeiro dia útil da obrigatoriedade de uso do cartão pelos que têm direito à gratuidade nos modais municipais, usuários enfrentam longa espera no único posto de atendimento da Zona Sul carioca

O primeiro dia útil em que passou a ser obrigatório o uso do cartão pelos beneficiários da gratuidade nos transportes municipais do Rio é marcado por confusão e longas esperas no posto de cadastramento de Botafogo, único da Zona Sul carioca. Centenas de pessoas, em sua grande maioria idosas, aguardam a sua vez. Ao meio-dia, usuários na faixa dos 65 anos tinham 250 senhas à frente para serem atendidos.
Jaé:
Sem celas:
Há várias filas no posto, anteriormente localizado na Rua Voluntários da Pátria e agora instalado na Rua Dona Mariana. A primeira é só para pegar a senha de atendimento, na qual mais de 70 pessoas esperavam no começo da tarde desta terça-feira.
— A solução era separar (essa fila) por assunto ou por necessidade. Não seria mais fácil ter uma só para quem fosse pegar o cartão, por exemplo? — questiona a aposentada Maria Helena Pinto, de 78 anos.
Carnaval 2026:
Depois, com o número em mãos, os usuários precisam enfrentar outras filas, divididas entre pessoas na faixa dos 65 aos 79 anos, acima dos 80 anos ou outros. Cadeiras e bancos disponíveis para acomodar o público são insuficientes para a demanda, e há quem esteja sentado no meio-fio da calçada, perto de árvores e até em degraus. Em alguns momentos, há gritaria.
— Ficam gritando “esqueceram da gente”, falam da hora da comida e do remédio — relata Luiz Carlos da Silva, aposentado de 72 anos, morador da Penha, que acompanha a esposa.
Quem é quem na família Bekerman:
Em Botafogo desde as 9h30, a aposentada Vicentina Silva, de 77 anos, está recém-operada. Há cinco dias, ela passou por um procedimento por conta de uma úlcera venosa. De curativo na perna, ela segue à espera de sua vez.
— Já passou da hora de tomar remédio e me alimentar, mas sigo aqui. Nem água para beber tem. Vim só buscar meu cartão. Acho que só vou embora lá para 15h. Sinto que é muita falta de respeito, falta de humanidade — diz Vicentina.
Já a autônoma Edna Dias, de 78 anos, mora no Leme e conta que havia feito seu pedido pela internet no início do ano. Ela, inclusive, pagou uma taxa para receber o cartão Jaé em casa, o que não ocorreu até agora.
— Contei meu caso para o atendente, que o cartão estava liberado, que só vim pegá-lo. Ele falou para mim que paguei (a taxa) porque eu quis, que era para eu entrar na fila. É um mau atendimento — desabafa.
Próxima etapa
Depois de concluída esta primeira fase de implantação do Jaé — com a obrigatoriedade do uso do novo cartão para quem tem direito à gratuidade desde o sábado passado —, a contagem regressiva agora é para o ponto crucial da nova bilhetagem eletrônica. A partir de 2 de agosto, daqui a 25 dias, apenas o Jaé será aceito em ônibus e vans municipais, BRT, VLT e “cabritinhos”. Até lá, a prefeitura promete manter postos com atendimento ampliado para amenizar o sufoco dos passageiros, embora as filas ainda sejam uma realidade.
Até o feriado desta segunda-feira, de acordo com a Secretaria municipal de Transportes (SMTR), havia cerca de 2,8 milhões de usuários cadastrados no sistema do Jaé, dos quais 1,2 milhão com direito à gratuidade. O governo não informou, no entanto, quantos ainda precisam pedir o novo cartão.
Dois milhões ainda fora
Dados do Painel do Sistema de Bilhetagem Digital do Jaé, da SMTR, mostram que quinta-feira passada, último dia útil disponível para a checagem, 2,6 milhões de viagens foram feitas nos modais municipais com uso de bilhetes — das quais 596,3 mil (23%) com o Jaé. Cerca de dois milhões de viagens diárias ainda precisariam migrar para o novo sistema.
Márcio D’Agosto, professor titular do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, observa que os principais desafios para que a maior parte do público migre para o Jaé estão ligados a recursos tecnológicos, humanos e materiais, para evitar problemas diante de um grande volume de procura. Entraves fizeram com que essa transição total do Riocard para o Jaé, implantado em 2023, já fosse adiada quatro vezes.
— Não dá para saber se vai ser adiado de novo. Mas, se esses recursos que mencionei não forem garantidos e ainda tiver muita gente sem acesso ao novo sistema, deve atrasar, não tem jeito — diz D’Agosto.
A prefeitura ressalta que não é preciso ter o cartão físico para usar o Jaé nos meios municipais e afirma que reforçou o atendimento para “garantir uma transição tranquila”. A orientação do município é que os usuários priorizem os superpostos (Campo Grande, Cidade Nova, Deodoro e Engenho de Dentro) e o atendimento on-line.
Quem usa os transportes administrados pelo estado — ônibus intermunicipais, barcas, metrô e trens — deve usar o Riocard. Os beneficiários do Bilhete Único Intermunicipal (BUI), com desconto concedido a pessoas com renda de até R$ 3,2 mil, podem passar o Riocard nos transportes municipais apenas quando estiverem fazendo a integração com um modal estadual.
O que é preciso saber sobre o novo cartão
1 - Formato digital ou físico
O Jaé pode ser usado em formato digital ou de cartão físico. Veja as modalidades:
Cartão digital: pode ser baixado gratuitamente pelo aplicativo Jaé. A prefeitura orienta que o usuário baixe a versão mais atualizada do app.
Cartão físico com entrega em casa: solicitado via aplicativo, com taxa de entrega de R$ 7,95. É gratuita apenas para pessoas com mais de 65 anos.
Cartão físico em loja: pode ser retirado em uma das 15 lojas da cidade após 72 horas da solicitação, segundo a prefeitura.
2 - Compra ou retirada
Onde ficam os postos de atendimento do Jaé: Centro, Botafogo, Barra da Tijuca, São Cristóvão, Engenho de Dentro, Ilha do Governador, Madureira, Pavuna, Taquara, Deodoro, Padre Miguel, Campo Grande, Santa Cruz, Guaratiba. Confira os endereços no site: https://jae.com.br/onde-estamos/
Cartão avulso: disponível em máquinas de autoatendimento (ATM) nas estações do VLT. Neste caso, o valor carregado fica vinculado ao cartão, e não ao CPF. Este cartão é destinado, principalmente, a turistas.
3 - Integração com o Jaé
O Jaé garante as mesmas regras do Bilhete Único Carioca: pague apenas uma tarifa até três embarques consecutivos no mesmo sentido em até três horas, desde que uma das viagens seja no BRT. Sem o BRT, o limite é de duas viagens. A integração vale apenas para os transportes municipais (ônibus, BRT, VLT e vans). Modais estaduais (trem, metrô, barcas, ônibus intermunicipais) continuam com o Riocard.
4 - Bilhete Único Intermunicipal
As regras permanecem inalteradas. Usuários já habilitados no sistema continuarão utilizando o cartão Riocard em seus deslocamentos. Os validadores do Riocard seguirão funcionando para esse público nos modais municipais a fim de garantir a integração.
5 - Saldo no Riocard
O saldo do Riocard não é transferível para o Jaé. O recomendado é que o usuário utilize o saldo atual do Riocard até o dia 2 de agosto, quando o Jaé passará a ser o único meio aceito nos transportes municipais.