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Milícia explora terras e ‘gatonet’ nos balneários de Búzios e Cabo Frio
MP denunciou paramilitares que sequestraram traficantes para obrigar chefe do TCP a reduzir taxa cobrada por serviço ilegal de TV a cabo em loteamento; caso trouxe à tona atuação de organizações criminosas

No fim da tarde de 19 de outubro de 2021, três homens invadiram uma lanchonete no bairro Alto da Rasa, em Cabo Frio, e sequestraram duas pessoas. Eles exigiram de resgate o pagamento de R$ 20 mil e a redução da taxa que o chefe do tráfico local, da facção Terceiro Comando Puro (TCP), cobrava dos milicianos que exploravam o serviço clandestino de TV a cabo na região. Segundo o Ministério Público do Rio (MPRJ), os sequestradores — apontados como integrantes da milícia — eram um cabo da Polícia Militar, um ex-paraquedista e um civil; e as vítimas, dois traficantes.
Milicianos em balneário:
Quem é quem na família Bekerman,
Ontem, O GLOBO revelou que uma família de israelenses foi alvo da ação de milicianos que invadiram seus lotes em Armação dos Búzios, cidade vizinha a Cabo Frio. De acordo com o MPRJ, além da grilagem de terras em diferentes localidades da Região dos Lagos, paramilitares também vêm explorando serviços clandestinos em loteamentos.
Valor chegou a R$ 10 mil
O promotor Rafael Dopico, que atua na região e integra o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), disse que o sequestro dos dois traficantes ocorreu após um desentendimento com os milicianos sobre o aumento do valor cobrado pela permissão para explorar o serviço ilegal.
— Houve um acordo entre o chefe do TCP e os milicianos: a milícia pagaria ao tráfico R$ 1.500 mensais para operar o serviço de TV a cabo nas localidades de Maria Joaquina, em Cabo Frio, e na Rasa, em Búzios. Pouco depois, o chefe do tráfico, Valdinei Quintanilha de Souza, conhecido como Macaco, passou a exigir mais. O valor subiu para R$ 3 mil e, posteriormente, para R$ 10 mil por mês. Os milicianos não aceitaram e sequestraram os traficantes, exigindo a redução da taxa, além do pagamento do resgate — explicou o promotor.
Áudios anexados ao processo mostram um dos sequestrados implorando ao chefe do tráfico que pague o resgate: “Ô mano, os caras tão querendo resposta rápida aqui, mano. Falaram que, se demorar dois minutos, um vai morrer”. Como Valdinei de Souza “não se comoveu com a possibilidade de morte das vítimas”, conforme consta na denúncia, os dois traficantes foram libertados.