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Com dissidências na base republicana, Senado dos EUA aprova projeto de gastos 'Grande e Bonito' de Trump
Texto prevê corte de impostos e investimentos sociais e eleva o teto da dívida e os gastos com segurança e imigração; três republicanos votaram contra o governo

Após horas de negociações, concessões e longos discursos, o Senado dos EUA aprovou , e que combina cortes de impostos e investimentos sociais com a elevação de gastos com imigração e segurança interna. A proposta, que recebeu críticas de aliados e ex-aliados, evidenciou fissuras na base governista: três republicanos votaram contra, e por pouco não deram a Trump a maior derrota de seu segundo mandato.
'Diplomacia à la Trump':
Medidas:
No plenário, 50 senadores votaram a favor e 50 foram contra — após a eleição de 2024, os republicanos garantiram, ao menos nominalmente, 53 votos na Casa, mas nesta terça-feira três senadores se juntaram à minoria democrata, Rand Paul, Susan Collins e Thom Tillis.
Há dias eles expressavam objeções a medidas como a elevação do teto de gastos e aos cortes em ações cruciais para algumas comunidades, como no Medicaid, o programa de seguro saúde para pessoas pobres e com deficiência. A liderança republicana chegou a fazer algumas concessões de última hora, como sobre verbas destinadas a ações de saúde em áreas rurais, para garantir o número mínimo de votos: a Lisa Murkowski, do Alasca, estava decidida a votar contra o plano, mas foi convencida pelas alterações propostas ao texto final. Se ela tivesse mantido a posição inicial, a lei teria sido derrotada.
— Consegui tudo o que queria? De jeito nenhum — disse a senadora ao New York Times após a votação, chamada por ela de “um processo agonizante”, que se arrastou pela madrugada de segunda-feira. — Insisti com nossa liderança e disse à Casa Branca que acredito que mais discussões são necessárias para este projeto de lei.
Com o empate, coube ao vice-presidente, JD Vance, que também acumula a posição de chefe do Senado, emitir o voto de minerva, dando a Trump uma vitória descrita por ele nesta terça-feira como “música para os ouvidos”.
— É um projeto de lei excelente. Tem algo para todos — disse a jornalistas durante uma visita à Flórida, na qual .
Decisão:
O projeto de lei “Grande e Bonito” de Trump, negociado ao longo de meses, é visto como crucial para avançar com os planos do presidente, mas combina medidas questionadas até mesmo dentro da base governista.
A começar pelo agressivo corte de impostos, que levaria a uma renúncia fiscal de cerca de US$ 4 trilhões, incluindo pessoas físicas e empresas. Ao mesmo tempo, universidades e estrangeiros residentes teriam um aumento considerável de seus impostos. Enquanto a redução nos impostos foi celebrada por alguns republicanos, ela foi chamada de “tímida” por setores pautados pela austeridade fiscal — Trump divergiu publicamente de seu ex-chefe do Departamento de Eficiência Governamental, , .
Já as isenções fiscais ligadas à ampliação do uso de energia limpa e veículos elétricos — algo que afeta Musk — serão eliminadas, enquanto incentivos à produção de carvão e combustíveis fósseis foram introduzidos no projeto. Pelo texto aprovado, o teto da dívida também foi elevado em cerca de US$ 4 trilhões.
Vingança:
Outra prioridade do texto é a elevação de gastos com a imigração e a segurança interna, duas bandeiras de campanha de Trump. Estão previstas verbas para reforçar barreiras na fronteira com o México, além de um reforço em agentes e instalações — quando o projeto foi aprovado no Senado, o presidente participava da inauguração de um novo centro de detenção de imigrantes na Flórida, em uma área remota do estado, e que embora seja custeado pelo governo local poderá receber verbas federais.
O orçamento militar também foi privilegiado com uma injeção de US$ 150 bilhões, um dinheiro que deverá custear um novo sistema de defesa aérea no país, apelidado por Trump de “Domo de Ouro”.
'Imundo e desumano':
Por outro lado, a lista de cortes de despesas é extensa, e deve causar problemas a milhões de americanos de baixa renda e aos candidatos republicanos que estarão nas cédulas no ano que vem.
Um alvo prioritário foi o Medicaid, usado por cerca de 72 milhões de pessoas no país. O projeto aumenta a burocracia para acessar o benefício, facilita o cancelamento de coberturas por parte dos estados e impõe um regime de coparticipação mais amplo para adultos com renda acima da chamada “linha da pobreza”. O programa de cupons de alimentação, que atende cerca de 42 milhões de pessoas, será modificado, com novas exigências para os beneficiários e a maior participação dos estados em seu custeio.
Em outra frente, o projeto prevê reduzir em até US$ 330 bilhões os gastos com empréstimos estudantis nos próximos 10 anos, em boa parte através de um novo plano de financiamento visto como desfavorável a candidatos de baixa renda.
Como o texto foi modificado pelos senadores, ele voltará à Câmara para uma última votação, o que pode acontecer na quarta-feira, segundo lideranças parlamentares. Trump havia dado um prazo até sexta-feira, quando o país celebra seu Dia da Independência, para sancionar a lei.
— Há algo para todos, e acho que vai ser muito bem aceito na Câmara. Na verdade, acho que será mais fácil na Câmara do que foi no Senado — disse Trump.
Os democratas, que desde o início apontam para os aspectos impopulares do texto, sugerem que os impactos da lei "Grande e Bonita" poderão “assombrar nossos colegas republicanos por muitos anos”, citando os cortes nos programas sociais e as estimativas de um déficit até US$ 2,4 trilhões maior em um período de 10 anos.
— À medida que o povo americano vir os danos causados, com o fechamento de hospitais, com as demissões, com o aumento dos custos e com o aumento da dívida, verá o que nossos colegas fizeram e se lembrará disso. E nós, democratas, faremos com que eles se lembrem disso — disse ao New York Times Chuck Schumer, líder dos democratas no Senado.