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Saiba quais são as dúvidas sobre o plano para matar Moraes

Por Poder 360 09/12/2024
Saiba quais são as dúvidas sobre o plano para matar Moraes
Alexandre de Moraes (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Dentre os episódios citados pela Polícia Federal no relatório de 884 páginas sobre uma tentativa de golpe de Estado no Brasil, chama a atenção aquele que seria o marco da “ruptura democrática”: o plano para sequestrar e matar o ministro do STF Alexandre de Moraes em 15 de dezembro de 2022 com o uso de um lança-rojão, fuzis e outros armamentos.

A PF dedica 169 páginas para relatar o caso. No dia planejado para o atentado, 6 integrantes do grupo, incluindo os “kids pretos” –militares das Forças Especiais– monitoraram os passos de Moraes em Brasília. Utilizaram celulares descartáveis e o aplicativo Signal para comunicação. Criaram o grupo “Copa 22”, em alusão à Copa do Mundo daquele ano, e usaram apelidos como “Brasil”, “Alemanha” e “Japão” para evitar o rastreamento. Mas lacunas no relatório deixam dúvidas sobre a exequibilidade da operação.

O plano

Segundo as investigações, em 15 de dezembro de 2022, depois de passar cerca de 1 mês estudando os trajetos do ministro por Brasília, os suspeitos se posicionaram próximos ao STF e à residência oficial de Moraes, em um apartamento na Asa Sul, bairro da capital federal.

Mensagens no grupo “Copa 22” mostram que, a partir das 20h33, os tenentes-coronéis Rafael Martins de Oliveira (Japão) e Rodrigo Azevedo (Brasil) informaram que estavam “em posição” para executar o plano. No entanto, tudo foi cancelado às 20h59.

A decisão de suspender a ação teria sido tomada após o grupo descobrir, às 20h53, que a sessão do STF daquele dia havia sido adiada, o que teria comprometido o planejamento da operação. A PF também atribui o fracasso à recusa do então comandante do Exército, general Freire Gomes, em apoiar o golpe.

As armas

O documento que descrevia a operação “Punhal Verde e Amarelo”, atribuído pela Polícia Federal ao general Mário Fernandes, então número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, detalhava o armamento planejado para a captura e execução de Moraes.

Entre as armas listadas estavam: uma metralhadora M249 (calibre 7,62 milímetros ou 5,56 milímetros) com capacidade de disparo de 850 tiros por minuto, 4 fuzis com munição perfurante, 4 pistolas, um lança-rojão e um lança-granadas. O indicativo é de que havia preparativos para confrontos com forças de segurança ou para a invasão de um prédio.

Como detalha o relatório, o grupo usou pelo menos 2 carros na operação: um Palio ano 2008 na cor preta e um Honda HR-V ano 2015, também na cor preta. Mas não há informações sobre se os carros tinham alguma blindagem especial ou adaptação para a missão. O inquérito também não esclarece se as armas mencionadas já estavam em posse dos investigados em 15 de dezembro de 2022 ou se estavam nesses carros.

A captura

O relatório indica que o grupo tinha noções da rotina de deslocamento de Moraes de sua residência para a sede do Supremo Tribunal Federal e, a partir disso, definiu posições estratégicas para aguardar a chegada do ministro em casa. A distância entre o local e o STF é de cerca de 9 km, ou 15 a 30 minutos de carro, a depender do trânsito.

A investigação mostra que um envolvido com o codinome “Gana” esteve posicionado próximo ao apartamento funcional. O prédio em questão tem vagas do lado de fora –que não são exclusivas de moradores e podem ser usadas livremente– e uma garagem subterrânea privativa.

O inquérito, todavia, não diz como ou onde o ministro seria interceptado ao longo deste trajeto. Também não há informações sobre se a execução seria a sangue frio ou se o ministro seria sequestrado –neste caso, também não se sabe para onde seria levado.

Moraes, como outros ministros do Supremo, tem forte aparato de segurança pessoal armado. Porém, à época, não se deslocava em veículos blindados. Essa exigência foi feita em julho de 2023 após uma discussão com um grupo de brasileiros no aeroporto de Roma, na Itália.

Bolsonaro sabia do plano?

Após o cancelamento do plano, Rafael Martins, o “Japão”, entrou em contato com o tenente-coronel Mauro Cid, uma figura com proximidade ao então casal presidencial Jair e Michelle Bolsonaro. A mensagem, enviada às 21h05, dizia só “opa”. Mais tarde, às 21h17, Cid respondeu: “Vou mudar de posição”. Em seguida, Rafael Martins tentou realizar uma chamada de vídeo, que não foi atendida, e escreveu: “Tá foda”.

A PF interpreta essa troca de mensagens como um indicativo de que Mauro Cid estava recebendo atualizações sobre a operação, mesmo estando em São Paulo na data. Mas não há indícios de que o andamento do plano tenha sido informado a Bolsonaro nem pelo grupo militar nem por Cid.

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