Maceió em Movimento
Conheça o Arte Pajuçara, espaço cultural dedicado as artes na orla de Maceió
Com média de seis filmes exibidos diariamente, o cinema recebe mensalmente por volta de 4.800 pessoas
Há mais de 40 anos o Centro Cultural Arte Pajuçara abriga cinema, teatro, música e artes visuais em Maceió. Localizado na orla da Pajuçara, o espaço resiste apesar das dificuldades e oferece uma gama de filmes para quem procura fugir dos blockbusters. No ano passado, espaço atraiu em média 4.800 por mês.
Em sua origem ainda nos anos 80 o cinema sempre buscou meios de se diferenciar dos demais, principalmente após o surgimento dos multiplex. A partir de 2006, quando o Serviço Social da Indústria (Sesi) assumiu a gestão do espaço foi estabelecida uma curadoria que privilegiasse a produção cinematográfica mais independente. Esses filmes, comumente chamados de alternativos podem ser classificados como películas que são de outros países, fugindo da produção hollywoodiana estadunidense.
“Por ter a preocupação de abrir espaços na programação para filmes fora do circuito comercial, muitas vezes somos procurados por produtores e distribuidores que nos oferecem seus filmes. Por outro lado, estamos em constante sintonia com as movimentações em torno de festivais nacionais e internacionais, onde esses filmes são lançados, acompanhamos suas trajetórias e buscamos meios de traze-los para exibição nas telas do Arte Pajuçara”, informou o diretor do centro cultural, Marcos Sampaio.
Marcão, como é conhecido, também faz a curadoria dos filmes que são exibidos. Ele conta que desde o início das operações, o local abre espaço para que cineclubes realizem suas atividades e entre elas o de promover debates pós-exibição. “Além disso temos realizado sessões de lançamento de filmes com a realização de conversas sobre suas temáticas. Criamos o Cine-Cidadania, que promove a exibição de filmes voltados para temáticas contemporâneas e de participação social", disse.
O espaço também ajuda produtores de outros estados, que procuram o Arte Pajuçara para o lançamento de seus filmes e promovem rodas de conversa com o público como forma de estimular a divulgação. Funcionando de terça a domingo, com horário usual das 14h às 22h, o cinema exibe diariamente de 5 a 6 filmes.
Com os “cinemas de shopping” tomados por blockbusters e produções estadunidenses, a esmagadora maioria das pessoas crescem e moldam seus gostos a partir dessas influencias. É comum ouvirmos que no Brasil não se produz bons filmes ou até mesmo desconhecerem produções que fogem da bolha hollywoodiana. É nesse sentido que o Arte Pajuçara se mantém e se reinventa.
“Nosso público durante muito tempo era majoritariamente adulto ou idoso, mas depois da pandemia e o interesse que determinados filmes despertam, além de eventos que apostam na formação de plateias como o Corujão e festivais, percebemos um aumento considerável de jovens, dos 16 aos 35 anos”, declarou Sampaio.
A estudante de ciências sociais, Luísa Alves, é uma das frequentadoras assíduas do local. “É o meu lugar preferido da cidade para consumir arte. Muitas das vezes algum filme que vejo falar na internet só é exibido aqui, quase sempre produções de outros países que contam com um orçamento mais modesto. E para além do cinema, há exposições de arte na galeria, peças de teatro e apresentações musicais”, conta.
Mas afinal, se orçamento definisse qualidade, grandes produtoras não precisariam se preocupar com seus filmes sendo fracasso de bilheteria, como foram os casos de Borderlands e Ghostbusters no ano passado.
Voltando para o Arte Pajuçara... dentre os eventos mais aguardados pelo público está, sem dúvida, o Corujão. Inspirado na Maratona Odeon, que acontecia no Rio de Janeiro, a primeira edição ocorreu em 2007 como forma de comemorar à época o primeiro aniversário do então Cine Sesi.
“Resolvemos dar um toque nosso e inserimos outras atrações além dos filmes, e o encerramento com um café regional. Acabou por se tornar um sucesso e os pedidos do público por novas edições. Mantivemos na fase do Arte Pajuçara e ele passou a não ser realizado sem periodicidade fixa. Ocorre diante das oportunidades de conseguirmos filmes e atrações capazes de mobilizar o público”, informou Marcão.
Após cada edição, a direção do cinema realiza um levantamento e consta que mais de 60% do público se renova em todas elas. A partir disso observou-se que o Corujão, além de um entretenimento diferenciado, pelo horário inusitado das madrugadas, tornou-se um formador de novas plateias, que acabam por retornar ao local em outros momentos.
Ao longo dos 11 anos de funcionamento, o diretor conta que o momento mais difícil foi em 2022 no pós pandemia, e como o apoio do público foi fundamental para superá-lo. “Após a pandemia e por conta de dívidas acumuladas nesses anos, enfrentamos um processo de despejo por parte da empresa proprietária do prédio, o que exigiu muita negociação, e a busca de meios para evitar o fechamento. Contamos com ajuda do público, de algumas empresas e do poder público, que permitiu a superação desse momento de tensão", explica.
Para 2025 os planos do espaço incluem uma grande mostra de cinema nacional e internacional, e a consolidação da sala 2 como espaço múltiplo, com cinema e teatro funcionando no mesmo local. “Vamos buscar ampliar nosso público, diversificar ainda mais nossa programação, mantendo a curadoria em torno de filmes capazes de
proporcionar a reflexão, o pensamento crítico e a capacidade de mobilizar o público em torno de suas temáticas”, finaliza.
A programação e demais informações podem ser encontradas no site e através do Instagram @artepajucara.